terça-feira, 5 de maio de 2009

A CAMINHO DO SUCESSO NO MEIO DO DISPARATE

A CAMINHO DO SUCESSO NO MEIO DO DISPARATE

por João César das Neves
(professor universitário)

A Fundação Richard Zwentzerg nasceu em 1999 para estudar o atraso e subdesenvolvimento no mundo mas, logo no início da actividade, ficou fascinada com o caso de Portugal. É famoso o seu relatório de Março de 2000, O País Que não Devia Ser Desenvolvido - O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses. Aí se dizia: "Portugal fez tudo errado, mas correu tudo bem. Os disparates cometidos na sua História são enormes. Só comparáveis com o sucesso que tiveram. Nenhum outro povo do mundo conseguiu construir... e destruir tantos impérios em tantas épocas e regiões. Hoje é um país rico, mais rico que 85% da população mundial. Mas conseguiu isso violando todas as regras do desenvolvimento."
A instituição publicou uma pequena colecção de estudos documentando a nossa realidade, até que a actual crise económica criou novo desafio. Estaria Portugal afinal sujeito às regras gerais? Iria pagar finalmente o preço dos seus muitos erros? Para responder acaba de surgir um novo estudo sobre o nosso país, após um silêncio de quase quatro anos (o anterior é de 2003 e, como todos, só é acessível no DN).
Os especialistas continuam a defender a sua teoria inicial, encontrando elementos únicos nesta realidade, agora no meio das dificuldades. Ainda é cedo para proclamar o resultado, mas, como diz o título do texto, Portugal está "a caminho do sucesso no meio do disparate".
O primeiro capítulo nota com satisfação como, desde o último estudo, se mantém por cá o nível da nova geração de enormes erros e tolices. Os estádios do Euro 2004, as OPA e a nova lei do tabaco, o descalabro das universidades e o plano tecnológico, três governos e quatro ministros das Finanças em quatro anos, o endividamento do País e a derrapagem dos custos laborais. Com a Ota e o TGV a asneira promete continuar. O País mantém-se fiel à tendência histórica.
Mas em Portugal disparates tão grandes vêm sempre a par de grandes melhorias. A fundação afirma que mais uma vez isso acontece. A economia portuguesa sofre uma mutação notável, com um grau de recuperação e adaptação à globalização raramente igualado. Os sinais são evidentes. A taxa de transformação estrutural da produção é talvez maior que em qualquer década anterior. O influente sector têxtil tradicional desapareceu de súbito com efeitos que se diluíram rapidamente. Os serviços, que eram 66% do produto nacional há dez anos, subiram para mais de 73% do total. Apesar disso, as exportações aumentaram 30% desde 2000 e modificaram largamente a sua orientação, quer sectorial quer geográfica. O País, supostamente em recessão, absorveu 400 mil imigrantes, fortalecendo a evolução. Todos estes e outros factos notáveis mostram como no meio da crise está a nascer o futuro surto de progresso.
Entre os portugueses ninguém reparou. Só se ouvem as queixas de estagnação e desemprego, custos inevitáveis da magna adaptação à "nova economia". Por vezes alguém nota como no meio da crise as praias, o Algarve e os centros comerciais estão cheios e a vida continua calma e relativamente próspera. Mas não se tiram conclusões e recai-se na lamúria. Estudos e especialistas repetem estribilhos que inventaram há séculos: "O modelo está esgotado", "Este país não tem solução". Até o Governo, que é interessado em sublinhar os êxitos, não viu nada e aposta em projectos nefastos, reformas tímidas, sonhos mirabolantes. Enquanto estraga tudo com as despesas descontroladas.
O relatório insiste nas semelhanças entre esta situação e o percurso das excelentes décadas anteriores, onde o País mudou radicalmente no meio de erros, zangas e lamentos. Ignorando as incríveis novidades nas suas empresas e mercados, os portugueses ocupam-se das questões tolas de sempre. Ou até mais tolas, arrisca a análise, pois a licenciatura do primeiro-ministro, aborto, ataque à família e confusão nas autarquias atingem níveis antes desconhecidos.
Portugal faz tudo mal, como sempre. Mas depois, sem saber como, safa-se. Como diz a frase tão tradicional:
"Não há-de ser nada".
Afinal nem tudo é mau, somos desenrascados!!!??? PORTUGAL FEZ TUDO ERRADO, MAS CORREU TUDO BEM. Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português . Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas, acabou de ser criada, uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam. Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal !!A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grandesurpresa dos investigadores, os mais altos índices de azelhice económicaforam detectados em Portugal, um dos países que tinha também uma dasmais elevadas dinâmicas de progresso. Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, osseus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado:"O País Que Não Devia Ser Desenvolvido "O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses. Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiõesdesenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 porcento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram noperíodo.Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evoluçãoportuguesa foi também notável.Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidadeinfantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento. Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassa da por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos dedesenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível eque tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhantes às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e aestabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ .Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante. É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório,o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de azelhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma :
- Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento. Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade.
Citando as próprias palavras do texto:
"Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice edesperdício, um tal nível de desenvolvimento?"A resposta, simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a irpor mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho. A única explicação adiantada pelo texto, mas quenão é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e"desenrascanço" do povo português. No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável.O texto termina dizendo:
"O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".

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